Curso de Tupi Antigo: Introdução e Aula 1


Introdução ao Tupi Antigo

  Nós nos propomos, aqui, a ensinar-lhe, de modo correto, o Tupi Antigo, a língua indígena clássica do Brasil, a velha língua brasílica dos primeiros dois séculos de colonização do nosso país. Você aprenderá os fundamentos da língua Tupi e conhecerá onde ele está presente na língua portuguesa e na geografia do Brasil.
  Infelizmente há cursos sem a mínima seriedade, que ensinam Nheengatu da Amazônia como se fosse Tupi Antigo, de envolta com o Guarani paraguaio. Tudo isso mais confunde os alunos que os ensina. Ora, estudar Tupi Antigo exige a mesma seriedade científica que exige o estudo de qualquer outro idioma. Assim, antes de tudo, é importante que certos conceitos fiquem bem claros para quem começa a estudar essa língua.
 

Conceitos Importantes
 

TUPI ANTIGO - Essa foi a língua que os marinheiros da armada de Cabral ouviram quando aqui chegaram em 1500 e que ajudou na construção espiritual do Brasil. Naquela época, essa língua era falada em toda a costa do Brasil por muitos grupos indígenas: os Potiguaras, os Caetés, os Tupinambás, os Temiminós, os Tabajaras, etc. Seu primeiro gramático foi o Padre José de Anchieta, que publicou sua Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil, em 1595.
  Chegou a ser, por séculos, a língua da maioria dos membros do sistema colonial brasileiro, de índios, negros africanos e europeus, contribuindo para a unidade política do Brasil. Forneceu milhares de termos para a língua portuguesa do Brasil, nomeou milhares de lugares no nosso país (sendo, depois do português, a língua que mais produziu nomes geográficos em nosso território), esteve presente em nossa literatura colonial, no Romantismo, no Modernismo, foi a referência fundamental de todos os que quiseram afirmar a identidade cultural do Brasil. “Falada na catequese e nas bandeiras, instrumento das conquistas espirituais e territoriais da nossa história, o seu conhecimento, sequer superficial, faz parte da cultura nacional” (Lemos Barbosa, 1956).


LÍNGUA GERAL – Foi uma língua surgida da evolução do Tupi Antigo, a partir da segunda metade do século XVII, quando, então, era falada por todos os membros do sistema colonial brasileiro: negros, brancos, índios tupis e não tupis, mestiços.


TUPI-GUARANI – não é uma língua, mas uma família de mais de vinte línguas. Inclui o Tapirapé, o Wayampi, o Kamayurá, o Guarani (com seus dialetos), o Parintintin, o Xetá, o Tupi Antigo, etc. Existem línguas Tupi-Guarani, não o Tupi-Guarani. Dessas, o Tupi Antigo é a que foi estudada primeiro e a que mais influenciou a formação da cultura brasileira.
 

NHEENGATU – é uma língua da Amazônia, uma evolução da língua geral, falada por caboclos no vale do Rio Negro, na Amazônia. É uma fase atual do desenvolvimento histórico do Tupi Antigo, mas não é o Tupi Antigo.

TUPI MODERNO – é o nome que alguns dão ao Nheengatu da Amazônia ou, ainda, a certas línguas faladas da família Tupi-Guarani. Não é a língua que Anchieta estudou, mas uma evolução dela.

Chave da pronúncia do tupi antigo
 
VOGAIS:

A: ka’a - mata;
a-karu - (eu) como; 

taba - aldeia
E: ere-ker - (tu) dormes;
ixé - eu;
pereba - ferida
I: itá - pedra;
pirá - peixe;
maíra - francês
O: "a-só" (leia assó) - (eu) vou;
oka - (leia "óca") - casa 

U: upaba - lago;
sumarã - inimigo;
puká - rir
Y: fonema que não existe no português, mas existe no russo e no romeno. É uma vogal média, intermediária entre u e i, com a língua na posição para u e os lábios estendidos para i. (Sugestão prática: diga u e vá abrindo os lábios até chegar à posição em que você pronuncia i.)

Todas as vogais acima têm suas correspondentes nasais.

Consoantes e Semivogais

- representa a consoante oclusiva glotal, que não existe em português. Tal fonema realiza-se com uma pequena interrupção da corrente de ar, seguida por um súbito relaxamento da glote: emba’e - coisa, so´o - caça

B - Pronuncia-se como o v do castelhano em huevo. É um b fricativo e não oclusivo, isto é, para pronunciá-lo, os lábios não se fecham, apenas friccionam-se: abá - homem; ybyrá - árvore; t-obá - rosto

Î - Como a semivogal i do português, em vai, falai, caiar, bóia, lei, dói: îuká - matar; îase’o - chorar; îakaré - jacaré

NH
- É um alofone (i.e., uma outra forma) de î e pronuncia-se como no português ganhar, banha, rainha: kunhã - mulher; nhan - correr;nharõ - raiva, ferocidade; nhandu-’i - aranha.

K - Como o q ou o c do português antes de a, o ou u, como em casa, colo, querer: ker - dormir; îuká - matar; paka - paca; ybaka - céu.

M (ou MB) - Como em português mar, mel, manto, ambos, samba: momorang - embelezar; mokaba - arma de fogo; moasy - arrepender-se. Às vezes o m muda-se em mb, que é um alofone. Em mb, o b é oclusivo, devendo-se encostar os lábios para pronunciá-lo.
  O m final deve ser sempre pronunciado, isto é, devem-se fechar os lábios no final da pronúncia da palavra, como no inglês “room” : a-sem - (eu) saio.

N (ou ND) - Como no português nada, nicho, nódoa, andar, indo: nupã - castigar; nem - fedorento; nong - pôr, colocar. Às vezes o n muda-se em nd, que é seu alofone.
Ex.: ne ou nde - tu; amã’-ndykyra - gotas de chuva
O n final deve ser sempre pronunciado: você deverá estar com a língua nos dentes incisivos superiores ao finalizar a pronúncia da palavra:nhan - correr; momaran - fazer brigar.

NG - Como no inglês “thing” - coisa ou “sing” - cantar. monhang - fazer; nhe’eng - falar

P - Como no português pé, porta, pedra: potim - camarão; potar - querer; pepó - asa.

R - É sempre brando, como no português aranha, Maria, arado, mesmo no início dos vocábulos: ro’y - frio; aruru - tristonho; paranã - mar; ryryî - tremer.

S - Sempre soa como no português Sara, assunto, semana, pedaço (nunca tem som de z): a-só (leia: assó) - vou; sema - saída. Às vezes, após i e î o s realiza-se como x (seu alofone): i xy - mãe dele; su’u - morder, a-î-xu’u - mordo-o.

T - Como em antena, matar, tato: tutyra - tio; taba - aldeia; tukura - gafanhoto.

Û - Como a semi-vogal u do português em água, mau, nau, audácia, igual. Em início de sílaba pode ser pronunciado como gû: ûyrá ougûyrá - pássaro; ûi-tu ou gûi-tu - vindo eu; ûatá ou gûatá - caminhar.

X - Como o ch ou o x do português em chácara, chapéu, xereta, feixe: ixé - eu; t-aîxó - sogra; i xy - sua mãe.

Exercício 01

Leia as seguintes palavras tupis:

A-
morubixaba (cacique)
ygara (canoa)
syk (chegar)
kûá (enseada)
nhe’eng (falar)
pytá (ficar)
gûyratinga (garça)
abá (índio)
îakaré (jacaré)
ygarusu (navio)
paka (paca)
peró (português)
ybyrá (árvore)
tendy (luz)
‘aka (chifre)
moti’a (peito)

ybytyra (monte, montanha


Vocabulário:

vocabulário Tupi Antigo

Fonte:
Tupi Antigo

6 comentários:

  1. Eu estou querendo aprender o Tupi Antigo, comecei a ver algumas aulas na internet e adorei, quero continuar aprendendo. Seria muito bom se vocês ministrassem esse curso no Duolingo. Façam isso por favor!...

    ResponderExcluir
  2. Olá! Você conhece algum curso grátis sobre nheengatu? Eu achei o curso da USP mas gostaria de ver outras opções.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi. Vc conseguiu se matricular nesse da USP? Não consegui acessar

      Excluir
    2. Também não consegui, acredito que tenha acabado

      Excluir
  3. Amei como posso continuar? Poderia ser ensinado nas escolas.

    ResponderExcluir